quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Manejo Reprodutivo


 



6.4. MANEJO REPRODUTIVO
REPRODUÇÃO
A reprodução de bovinos tem como finalidade a produção de bezerros e bezerras utilizando matrizes, a partir da maturidade sexual até o momento de descarte e conseqüente substituição por novilhas (reposição), sendo que o ciclo se repete de geração em geração.
O que se quer através do maior e melhor conhecimento é a aplicação das técnicas pecuárias avançadas e intensificar as parições de forma que, cada vaca em idade reprodutiva, produza um bezerro por ano e este deva ser criado de forma sadia e desmamado com bom peso.
Para isto, os Médicos Veterinários, criadores e todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente na pecuária devem possuir um fim único: o de aumentar a produção e a produtividade tendo como conseqüência o aumento dos lucros. A produção de leite e carne bovina estão baseadas na produção de bezerros e de bezerras, não é difícil, portanto, entender que vacas leiteiras, bois gordos e vacas de cria um dia foram bezerros e bezerras.
Isto explica porque vários grupos de pessoas estejam interessados em tirar da pecuária o máximo que ela possa dar, investindo tempo e capital na criação com o objetivo de reproduzi-las.
A Inseminação Artificial é apenas um, porém importante e econômico argumento para atingir tal objetivo. O gado leiteiro visa produzir fêmeas de alta produção leiteira, e reprodutores "melhoradores". Já a pecuária de corte usa a Inseminação Artificial para produção de carne, touros "melhoradores", novilhas para a reposição e o aproveitamento de vacas que serão descartadas.
Em ambas as situações, os rebanhos manejados intensivamente têm por finalidade reduzir ou manter o intervalo entre partos próximo dos 12 meses.
FERTILIDADE
Fertilidade é a capacidade dos indivíduos de se reproduzirem com finalidade de manutenção da espécie.
Uma vaca é fértil quando é capaz de emprenhar já no início de sua maturidade sexual, levar esta prenhez até o fim, produzir crias sadias e viáveis, "derrubar" (produzir) um bezerro por ano e, assim, sucessivamente até o momento de ser substituída.
A fertilidade de um rebanho é medida através de sua produção para cada cem vacas em idade reprodutiva.
Mais a miúde podemos dizer que a fertilidade se traduz pela soma dos parâmetros abaixo:
- Índice de inseminacaoção.
- Percentagem de não retorno a 1ª inseminacaoção.
- Percentagem de gestação.
- Percentagem de parição.
- Intervalo entre partos.
FECUNDAÇÃO
Ocorre entre poucos minutos e poucas horas após a deposição do sêmen nas vias genitais da fêmea, seja por monta natural ou por Inseminação Artificial, ou seja, a fertilização do óvulo da fêmea pelo espermatozóide do macho.
6.4.1. SANIDADE NA REPRODUÇÃO
A natalidade dos bovinos pode ser influenciada através da seleção de reprodutores e matrizes com boa capacidade reprodutiva e pelo estado sanitário dos animais. As doenças infecciosas, de origem bacteriana, viral ou parasitária são importantes, pois afetam o aparelho reprodutivo de machos e fêmeas, impedindo a fecundação, causando abortos, repetições de cios, o nascimento de animais com porte inferior a média, disfunção hormonal, entre outros, inclusive a perda da função reprodutiva.
A maioria das disfunções passa desapercebida. Sendo assim, o controle preventivo de machos e fêmeas é de fundamental importância para se obter maior nascimento de bezerros e, consequentemente, maior rentabilidade na produção.
CUIDADOS COM OS MACHOS
Os machos destinados a "touros" (inclusive os de compra), devem passar por criterioso exame de seleção onde se observa a condição corporal, aparelho locomotor parâmetros genéticos favoráveis (o ideal seria o teste de progênie) e aparência fenotípica (externa), além de exames laboratoriais. Ao exame físico devemos observar o aparelho genital completo, procurando anomalias, defeitos, processos inflamatórios e observando medidas e condições estabelecidas para cada raça.
O exame andrológico completo deve ser realizado antes de cada estação reprodutiva
Casos de falha na reprodução, normalmente são atribuídos às fêmeas, quando na verdade, os machos ocupam o maior destaque através da transmissão de doenças pela monta.
CUIDADOS COM AS FÊMEAS
Fêmeas destinadas à estação reprodutiva devem apresentar boa condição corporal (5 acima), e estarem ciclando normalmente. As fêmeas devem ser selecionadas antes do início da estação reprodutiva, para a formação dos lotes.
6.4.2. PRINCIPAIS ENFERMIDADES DE INTERESSE REPRODUTIVO
As doenças da reprodução possuem peso importante nos índices de natalidade, taxa de prenhes, retorno ao cio, natimortos, entre outros, ou seja, inúmeros prejuízos.
Várias são as enfermidades reprodutivas que acometem os bovinos, porém, o aborto causa maior impacto, mas não é a enfermidade que causa maior perda.
O aborto em bovinos ocorre nos diversos estágios gestacionais e possui diversas causas, de modo que é fundamental o seu diagnóstico. As causas principais são a brucelose, leptospirose, campilobacteriose, complexo herpes vírus, trichomonose, diarréia viral bovina, intoxicações, nutricionais, de manejo e outras desconhecidas.
6.4.2.1. BRUCELOSE
A suspeita da ocorrência de brucelose em um rebanho, geralmente está associada aos abortos no terço final de gestação, sendo uma enfermidade que afeta várias espécies de animais domésticos e silvestres.
Acomete bovinos de todas as idades e de ambos os sexos, afetando principalmente animais sexualmente maduros, causando sérios prejuízos devido a abortos, retenções de placenta, metrites, sub-fertilidade e até infertilidade.
Portanto, quanto maior o número de vacas infectadas (que abortarem ou parirem em uma determinada área), maior o risco de exposição de outros animais do rebanho. É importante fazer o diagnóstico das vacas infectadas e sua remoção dos pastos maternidade antes da parição. Assim, o estágio de gestação e parição, a remoção dos animais infectados, seguidos de vacinação das bezerras (entre 3 e 5 meses), constituem importantes detalhes na forma de manejo.
A brucelose (uma das doenças infecto-contagiosas com maior destaque na esfera reprodutiva) tem como principal via de contaminação, a digestiva; por água, alimentos, pastos contaminados com restos de aborto, placentas, sangue e líquidos contaminados (proveniente de abortos e partos de vacas e novilhas brucélicas).
A transmissão pela monta por touros infectados também pode ocorrer, mas em menor proporção que a digestiva.
A principal característica da brucelose é ser uma doença que afeta os órgãos da reprodução. Através da inseminacaoção também poderia ocorrer contaminação, pois a "Brucella abortus" (agente causador) resiste ao congelamento e ao descongelamento juntamente com o sêmen, mas, o controle sanitário do sêmen envasado nas centrais de congelamento elimina esta possibilidade pois somente reprodutores isentos da enfermidade, entre outras, é que devem ser congelados.
Não podemos esquecer que a brucelose causa sérios danos também aos touros através de orquites e epididimites uni ou bilaterais, podendo levá-los a sub-fertilidade e até mesmo à esterilidade.

Quando os touros se recuperam da enfermidade, podem tornar-se disseminadores, se seu sêmen for coletado sem diagnóstico prévio, e utilizado em programas de Inseminação Artificial.
A introdução de animais infectados, em rebanhos sadios é o caminho de entrada da brucelose na propriedade, mas a manutenção destes animais, é pior ainda (pela propagação entre o rebanho).
Com a doença surgem os abortos, partos prematuros, retenção de placenta, endometrites, orquites, baixando, portanto a eficiência reprodutiva do rebanho.
A principal característica é o aborto que ocorre a partir do quinto mês de gestação, geralmente acompanhado por retenção de placenta e endometrite.
A vacinação com a vacina B19 (fêmeas entre 3 e 5 meses), geralmente é eficiente para prevenir o aborto além de aumentar a resistência à infecção, mas não imuniza totalmente o rebanho e tampouco possui efeito curativo.
A percentagem de aborto na primeira gestação de novilhas brucélicas não vacinadas é de aproximadamente 65-70%; já na segunda gestação cai para 15-20%; após duas gestações dificilmente acontece o aborto, mas, aí é que reside o problema, pois estas fêmeas vão parir normalmente. E, a cada parição haverá nova contaminação dos pastos, devendo estas fêmeas serem descartadas logo após o diagnóstico positivo que ocorre através da coleta de sangue e exames laboratoriais.
Nos rebanhos onde as fêmeas de reposição são basicamente obtidas através de compras indiscriminadas de animais jovens ou maduros sexualmente, o índice de animais positivos e abortos tende a ser elevado, disseminando rapidamente a doença.
A vacina contra a brucelose, com a vacina B19, deve ser feita por Médico Veterinário, sendo que este deve tomar os devidos cuidados para não se infectarem, uma vez que ela é feita com vírus vivo, apenas atenuado. Devem ser vacinados apenas as fêmeas com idade entre 3 e 5 meses, e no momento da vacina , identificar estes animais com marca a fogo no lado esquerdo da cara.
Exames periódicos de amostragens do rebanho devem ser realizados para se ter uma idéia da evolução da enfermidade na propriedade.
Os animais vacinados na época certa, possuem reação "falso positiva" até aproximadamente 30 meses, pelo método de soro-aglutinação rápida em placa (o mais usado pelo seu baixo custo, e que nos aponta resultados muito incertos).
Os animais que, por erro de manejo não foram vacinados, quando do exame não devem reagir, a menos que já sejam "verdadeiros positivos". Daí a necessidade da marca na cara, para diferenciar os resultados de soro-aglutinação.
Animais vacinados tardiamente podem ser ao longo de sua vida "falsos positivos" pois sempre que se realizar o exame, haverá reação positiva.
Nestas situações, devem realizar-se outros tipos de exame que diferenciam reação vacinal de positivos.
O diagnóstico realizado a partir de coleta de material próximo ao parto (2 a 4 semanas antes ou depois) implicará em significativo aumento de resultado falso negativo.
Testes de fixação de complemento, rosa de bengala, Elisa, e outros, podem ser usados como diagnósticos mais precisos, mas deve-se levar em conta o custo de tais exames.
É também problema de saúde humana, pois o homem pode contrair a enfermidade (zoonose) através de alimentos e água contaminados pelo contato com fetos abortados, urina, fezes, placenta e carcaças contaminadas, como ainda também pela ingestão de leite não pasteurizado e do queijo, podendo causar vários distúrbios, inclusive a esterilidade.
As medidas de controle são afetadas por uma variedade de fatores, mas através de esforço conjunto, entre Veterinários, proprietários e laboratórios (através de técnicas de diagnóstico confiáveis e viáveis), pode-se estabelecer critérios e medidas de manejo, assim como a vacinação, entre outras, para melhor fazer o controle ou erradicação da brucelose.
6.4.2.2. LEPTOSPIROSE
Causada por diversos sorovar da bactéria do gênero Leptospira.
A leptospirose afeta animais e humanos, causando, principalmente, perdas por abortos em bovinos além de infecções disseminadas pelo organismo. A transmissão pode ser através da urina, parto, leite, abortos mas principalmente através de roedores e animais silvestres infectados.
A enfermidade apresenta-se geralmente de forma subclinica (sem sintomas facilmente detectáveis), particularmente em animais não lactantes e não gestantes. Manifesta-se clinicamente através do aborto (o feto se mostra autolisado indicando que houve morte algum tempo antes do aborto), natimortos, fetos prematuros e/ou fracos, subfertilidade ou infertilidade decorrentes de complicações.
O diagnóstico é realizado de forma diferencial com outras formas de aborto, além de exames laboratoriais (principalmente da urina), dados clínicos e epidemiológicos.
O tratamento através de estreptomicina visa impedir a septicemia (disseminação por todo o organismo), consequentemente controlando a contaminação do ambiente.
A vacinação de todos os animais (em rebanhos de incidência alta) deve iniciar em todos os bezerros de 4 a 6 meses de idade, seguidas por vacinações anuais (sempre com vacinas que abrangem o maior grupo de leptospiras.).
Como vacinação estratégica, pode ser realizada 1 (um) mês antes da estação reprodutiva.
6.4.2.3. IBR-IPV
Rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) e Vulvovaginite pustular (IPV) fazem parte do complexo Herpesvírus bovino, causadas pelo HVB tipo-1, responsáveis por abortos entre outras enfermidades. O HVB pode produzir uma variedade de manifestações clínicas como a mastite (inflamação do úbere), conjuntivite (inflamação da conjuntiva), balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio), doenças estas que podem ocorrer em um mesmo surto, com animais distintos.
A IBR é a forma respiratória, ocasionando febre e lesões de transtorno nas vias superiores do animal, com quadros respiratórios graves em animais jovens.
A IPV é uma infecção da mucosa vaginal e da vulva que manifesta-se por edema, secreção com exudato, pústulas de conteúdo mucopurulento, transtorno no ato da micção, endometrites, repetições de cio e infertilidade temporária por período igual ou superior a 60 dias, quando retorna o ciclo estral normal e fértil.
A infecção nos touros possui caráter importantíssimo na disseminação da enfermidade através da cópula, com lesões no pênis e prepúcio além do sêmen contaminado, os touros transmitem a cada monta o vírus às fêmeas sadias.
A Inseminação Artificial pode transmitir a enfermidade se o sêmen estiver contaminado.
O aborto (seguido de retenção de placenta) ocorre normalmente, no terço final da gestação, onde associados a este, estão os sinais clínicos de conjuntivite, rinotraqueíte, vulvovaginite, ou ainda, isentos dos mesmos.
Uma vez diagnosticada a enfermidade devemos proceder a vacinação dos que ainda são jovens e repetindo a vacinação anualmente para manter a imunidade. Para fêmeas adultas, a vacinação deve acontecer no início da estação reprodutiva.
6.4.2.4. BVD
A Diarréia Viral Bovina (do gênero pestevirus) é um complexo de doenças associadas com a infecção pelo vírus da BVD que diminui a imunidade. Virose também conhecida por causar desordens reprodutivas, sendo que a infecção fetal (transplacentária) pode levar à morte embrionária, ou até defeitos congênitos (nascidos com o indivíduo como a microencefalia, hidrocefalia, hipoplasia cerebral, defeitos oculares), surtos de diarréia, abortos, entre outros.
A infecção com o vírus da BVDV ocorre através das vias nasal ou oral, podendo ocasionar a morte do animal (jovem ou adulto) e o nascimento de animais pouco desenvolvidos que podem tornar-se portadores da enfermidade.
Os animais infectados (com a introdução no rebanho através de compras, principalmente) liberam continuamente o vírus através de suas secreções e fluídos corporais, transmitindo lentamente a infecção entre os bovinos, disseminando primeiramente os animais mais próximos, de forma que a identificação e o isolamento dos animais por 3 semanas, diminuem as chances de um surto de BVDV.
O sinal clínico de aborto é o mais difícil para se diagnosticar, o que pode ocorrer semanas após a instalação do vírus em animais vacinados ou não e, que às vezes, não tenham demonstrado outros sinais clínicos da enfermidade, além da necessidade do diagnóstico diferencial das outras causas de aborto.
O controle pode ser efetuado através de vacinas inativadas (seguindo o esquema do fabricante), geralmente associadas a outros agentes infecciosos como a parainfluenza. Como vacinação, pode ser realizada em animais de 8 a 12 meses e estratégicamente 1 (um) mês antes da estação reprodutiva.
6.4.2.5. TRICHOMONOSE
É doença infecciosa e sexualmente transmitida, causada pelo Trichomonas foetus que afeta fêmeas e machos em idade reprodutiva, causando morte embrionária, aborto, endometrites, piometras, ou fetos macerados, como conseqüências diretas, pois o maior prejuízo está na diminuição de nascimentos e na demora do estabelecimento da prenhez, como forma indireta.
A principal via de transmissão acontece durante a cópula (monta) onde o macho infectado contamina a fêmea ou é contaminado por esta, ou ainda, através da Inseminação Artificial com sêmen contaminado.
O aborto pode ocorrer normalmente até o quarto mês de gestação, mas a característica mais marcante é o grande número de repetições de cio, ciclos estrais irregulares, baixo índice de concepção, corrimentos vaginais com fluído claro ou amarelado.
O tratamento das fêmeas é praticamente ineficaz e desnecessário, pois a maioria destas recupera-se após um descanso sexual. Prostaglandinas podem ser usadas no sentido de fazer uma "limpeza" do útero e regularizar o ciclo estral.
Os machos contaminados, com idade superior a 5 ou 6 anos devem ser descartados, pois geralmente tornam-se portadores disseminando a doença.
Vacinas inativadas podem ser usadas em touros jovens para evitar a propagação da enfermidade, mas o tratamento mais eficaz para as fêmeas é a uso da Inseminação Artificial com sêmen de reprodutores isentos da enfermidade, ou o repouso sexual por mais de 90-100 dias, o que economicamente, não é interessante.
6.4.2.6. CAMPILOBACTERIOSE
Enfermidade assim denominada por ser causada por espécies do gênero Campilobacter fetus subesp. venerealis, sendo também uma doença venérea, exclusivamente de bovinos que não causa nenhum mal aos machos, mas inflamações no trato genital feminino podendo levar até a infertilidade, passando por baixa taxa de natalidade, endometrite, aborto entre o 4° e o 7° mês de gestação.
O desempenho reprodutivo das fêmeas pode sugerir a presença da enfermidade, sendo que os sinais clínicos se assemelham à tricomonose e de outras doenças infecciosas do aparelho genital.
O tratamento em bovinos é desaconselhável, pois os resultados são insatisfatórios e antieconômicos, salvo em condições especiais, quando podem ser tratados com estreptomicina. A principal medida é o uso de Inseminação Artificial como tratamento de eleição.

6.4.3. ESTAÇÃO REPRODUTIVA
6.4.3.1. ESTAÇÃO REPRODUTIVA DE NOVILHAS
Com o uso estratégico de pastagens cultivadas de maior disponibilidade e qualidade durante a estação seca, uma melhor condição nutricional é proporcionada às novilhas que serão enxertadas e às novilhas de 1ª cria.
Assim sendo, as novilhas paridas (primíparas) têm menor desgaste orgânico, favorecendo ao aparecimento do 1° cio fértil e as novilhas a serem enxertadas atingem mais rapidamente a condição corporal desejada.
As novilhas provenientes de cruzamentos são mais precoces e, portanto, atingem sua maturidade sexual mais cedo, quando comparadas com as Zebuínas. Contudo, para expressarem maior potencial, necessitam de alimentação de melhor qualidade. Se a propriedade dispõe de boas pastagens e eficiente controle de ecto (parasito externos) e endo (parasitas internos) parasitas, estas novilhas cruzadas podem ser criadas juntamente com as novilhas Nelore. Novilhas com pouco desenvolvimento, embora possam ter idade avançada, normalmente não apresentam cio.
A estação reprodutiva das novilhas deve ter início e término de 25-45 dias antes que a das vacas, uma vez que as novilhas de 1ª cria apresentam intervalos maiores entre parto e primeiro cio fértil, quando comparado com as vacas, sendo que o tamanho associado a seu peso (desenvolvimento corporal) é mais importante que a idade.
A idade à época de maturidade sexual vai depender da raça e da alimentação.
O peso ideal para serem selecionadas ao programa reprodutivo, de novilhas Nelore, está em torno dos 270-280 kg/vivo, atingindo este peso, em criações extensivas, por volta dos 25-30 meses. No entanto, em condições de pastagens melhoradas, pode ser reduzida para 20-24 meses. Já para as novilhas com sangue europeu, por volta dos 300-320 kg/vivo, dependendo da alimentação fornecida, a partir dos 12-18 meses.
Assim sendo, cada raça tem seu peso ideal à primeira concepção e este peso deve ser respeitado, se o criador desejar que este animal atinja seu total desenvolvimento.
Mesmo que estas novilhas entrem em cio antes desta condição, elas não devem ser cobertas, pois corre-se o risco de não conseguir manter as exigências nutritivas ao seu bom desenvolvimento.
Se as novilhas forem acasaladas com bom desenvolvimento corporal e não sofrerem restrição alimentar, durante a gestação e no pós-parto, é possível que elas retornem com cio fértil após 45 dias. Entretanto, a freqüência e a intensidade da amamentação poderão atrasar consideravelmente o retorno ao cio fértil.
Fornecer boa alimentação às futuras vacas, é portanto, condição indispensável ao perfeito desenvolvimento e à obtenção de bons resultados.
Como as novilhas deverão entrar em reprodução mais cedo que as vacas, na mesma estação reprodutiva, deverão ser trabalhadas em pastos separados.
Novilhas de 1ª cria podem rejeitar seus bezerros, o que não é comum, pois a grande maioria aceita e cuida de suas crias. Acontece que isso não se pode prever com antecedência.
No entanto, tem-se observado que, quando há intervenção nos partos (parto distócico) ocorre maior incidência de rejeição ao bezerro, assim como quando do momento do parto (natural), os peões se apoderam do bezerro para curar umbigo, tatuar, aplicar medicamentos, etc. antes mesmo da vaca limpar o bezerro e este ter mamado o colostro (primeiro leite).
Para que isto ocorra com menos freqüência, as novilhas devem, assim como as vacas, serem colocadas em pastos maternidade, em ambiente calmo. E o manejo com o bezerro recém-nascido acontecer após o bezerro mamar o colostro. Muitas novilhas, talvez por estarem com o úbere muito cheio (com muito leite e até mesmo inflamado), sentem dor e não deixam o recém-nascido mamar. O peão deve interferir, prendendo a vaca e colocando o bezerro para mamar nos quatro peitos de forma igual, "esgotando" a vaca logo em seguida. Repetir esta operação tantas vezes quantas forem preciso, até que o bezerro consiga mamar sozinho.
A estação reprodutiva de inverno pode ser aconselhada somente para novilhas que não atingiram desenvolvimento para a estação reprodutiva de primavera-verão, e que ficariam "passadas" para a estação seguinte onde o criador pode "ganhar" alguns meses. Isto é uma "faca de dois gumes", porque, desta forma, estaremos criando datas diferentes de manejo, e com isso, aumentando a mão de obra e despadronizando os lotes, etc.. Normalmente não é indicada.
6.4.3.2. ESTAÇÃO REPRODUTIVA DE VACAS
O início da estação reprodutiva vai depender de qual época se deseja que aconteçam os nascimentos e a desmama, uma vez que a gestação leva nove meses e meio, ela deve ter seu início programado por igual período antes da primeira parição.
A estação reprodutiva deve-se concentrar nos períodos de melhor fornecimento de alimentos, uma vez que as exigências nutritivas para reprodução são altas, assim o nascimento ocorre nos períodos secos onde a incidência de doenças é menor.
Recomenda-se uma estação de monta curta, como modelo ideal, de aproximadamente 3 meses, sendo os mais recomendados entre novembro, dezembro e janeiro.
Para novilhas aconselho iniciar com a estação reprodutiva, de 25 a 45 dias antes do que as vacas.
Na estação reprodutiva, com a Inseminação Artificial associada ao repasse com touro, costuma-se utilizar os primeiros 25 ou 45 ou 65 dias apenas com Inseminação Artificial (a fêmea tem condições de apresentar 1 ou 2 ou 3 cios), e após este período, as matrizes seriam colocadas com touro para os chamados repasses, por períodos também variados.
Em condições extensivas de criação, normalmente, os touros ficam com as vacas o ano inteiro, ocorrendo a concentração das parições em agosto e setembro, o que corresponde a concentração de cios férteis durante o período de novembro e dezembro.
A redução do período reprodutivo deve ser feita de forma gradual, eliminando-se, a cada ano, de 1 a 2 meses até atingir-se a duração ideal, variando de propriedade para propriedade.
Com uma "pressão de seleção" maior (eliminação de animais pelos mais variados motivos) pode-se melhorar esse tempo, sem ocorrer perdas, pois uma vez com o valor econômico do descarte, adquirir (fazer a reposição) novas matrizes (novilhas, vacas paridas e/ou prenhes).
Normalmente quando a estação reprodutiva é muito longa, isto nos indica que não só este fator deve ser corrigido, na determinada propriedade, pois sempre está associado a várias outras formas de manejo não tão adequadas.
A implantação da técnica de Inseminação Artificial em fazendas sem estação reprodutiva definida pode ser feita de forma rápida através da seleção de matrizes e formação dos lotes, pastos reservados, treinamento de mão-de-obra (formação de Inseminadores), preparação de rufionas e aquisição de materiais.
As demais condições, a grande maioria das propriedades possui, mas não devemos esquecer que cabe ao Veterinário (após observar e analisar a propriedade como um todo) a palavra técnica final, assumir assim posição decisiva para o sucesso ou o fracasso da implantação da técnica de I.A.
O estabelecimento de duas estações de monta durante o ano, para vacas, normalmente não se justifica, pois, considerando que o manejo e a alimentação são semelhantes para todas as vacas, estaríamos premiando aqueles animais de baixa eficiência reprodutiva, que não conceberam durante o período desejado.
Mesmo com a redução do intervalo entre partos, estaríamos fazendo uma seleção negativa para fertilidade, além do que , os nascimentos resultantes da chamada "estação de inverno" ocorreriam na estação das águas, o que não é aconselhável, e, as práticas de manejo se estenderiam ainda por longo período no ano.
6.4.3.3. PRIMÍPARAS
Não podemos esquecer que as chamadas primíparas (de 1ª cria) ainda estão, normalmente, em pleno desenvolvimento corporal, tendo que além de desenvolver, levar a gestação a termo, parir em bom estado, apresentar cio fértil, e desmamar bezerro pesado (para isso deve-se fazer uso dos creep-feeding, creep-grasing, aleitamento interrompido (chang), desmame precoce...).
Para tanto, a maior atenção (no que diz respeito a nutrição) deve ser dada a estas, então denominadas vacas de 1ª cria, e lembrar que é mais econômico tratar dos bezerros do que das vacas.
6.4.3.4. DESCANSO PÓS-PARTO
O descanso pós-parto tem por objetivo uma recuperação do animal em razão do período final da gestação, parto e início de produção leiteira, além de aguardar a completa involução uterina, durante após os 30-45 dias seguidos ao parto.
6.4.4. DESCARTE
Os principais critérios para o descarte de matrizes são: a idade, infertilidade e a inabilidade materna, dentre outros.
6.4.4.1. A IDADE
O descarte pela idade atinge matrizes normalmente com mais de 10 anos, pois as mesmas passam a desmamar bezerros mais leves, além de terem maior dificuldade de emprenhar. Considerando-se 4 anos a idade média para a primeira cria, e o descarte com 10 anos de idade, a vaca deixa, em média, de 4 a 5 crias.
É uma produção que muito pode ser melhorada se reduzir a idade à primeira cria e o intervalo entre partos, conforme já vimos anteriormente.
6.4.4.2. A INFERTILIDADE E O ABORTO
A infertilidade é traduzida pela não concepção e está associada a diversos fatores, como a repetição de cios (apesar de serem cobertas por touros reconhecidamente férteis ou inseminacaodas pela técnica correta, ocorre o retorno do cio), anestros prolongados (pós-parto, desequilíbrio nutricional, piômetras etc.), defeitos congênitos (genéticos), infecções genitais, uso impróprio de medicamentos, estresse, etc., sendo que na maioria dos casos a causa principal é o desequilíbrio nutricional ou a restrição alimentar.
A estes fatores negativos também estão associados os abortos que podem ocorrer por diversas causas, como por exemplo os agentes infecciosos, fetos com defeitos genéticos, mumificados ou macerados, toxinas, estresse, uso impróprio de medicamentos, desequilíbrios nutricionais, manejos inadequados (transportes), prenhes gemelar, acidentes traumáticos (porteiras de mangueiros, quando dos apartes e até mesmo os provocados, etc.).
Definir o diagnóstico da causa do aborto é essencial para determinar o destino da matriz e as medidas profiláticas aplicáveis ao rebanho, caso sejam necessárias, para a sua prevenção.
As vacas vazias (após terem sido inseminacaodas ou cobertas) ao "toque" (diagnóstico de gestação) ou as de baixa produtividade, após a estação reprodutiva, devem ser descartadas, a fim de ,com isso, fazermos a pressão de seleção por fertilidade e habilidade materna. Isto normalmente ocorre no início do período seco.
Embora tendo como principal fator da baixa fertilidade, o fator nutricional, não está diretamente relacionado ao descarte, mas sim, à fertilidade.
6.4.4.3. HABILIDADE MATERNA
A habilidade materna (capacidade de criar bezerros sadios e desmamá-los pesados), embora muitas vezes não levadas em consideração, traz prejuízos de enorme monta.
Matrizes que não desmamam bezerros pesados são ditas sem habilidade materna, não sendo consideradas boas mães.
Os motivos geralmente são: por defeitos de úbere como o de possuir peitos muito grossos (onde o recém nascido tem dificuldade de "pegar"); ou peitos secos por inúmeras causas; não produzir leite suficiente; além da natural diminuição de produção de leite pela idade avançada; mães as que enjeitam (rejeitam) bezerros, dentre outras causas.
Temos que separar estas condições da simples restrição alimentar (falta de alimento suficiente para satisfazer as necessidades), o que faz com que estas causas todas se agravem.
Todas elas contribuem para a mortalidade na fase de aleitamento, diminuindo a produção, e isto é motivo mais do que suficiente para serem descartadas.
6.4.5. REPOSIÇÃO DE MATRIZES
A seleção para reposição de novilhas deve acontecer antes do período reprodutivo, com base na sua aparência externa (fenótipo), genótipo (mérito genético) e seu desenvolvimento corporal (idade e condição corporal).
Em situações normais, recomenda-se que, a cada ano, sejam substituídas cerca de 15-20% das matrizes, ficando dessa forma, apenas matrizes jovens e de idade média, até no máximo 8-9 anos (com vida reprodutiva de 4-6 anos).
Muito criadores acreditam que o gado que possuem sempre é melhor que o do vizinho, e até mesmo que é pura, e simplesmente o melhor que existe, sendo uma grande verdade em determinadas situações, e esta uma das motivações para continuar desenvolvendo a pecuária. Portanto, pensam também que não existirão novilhas melhores do que as dele para a reposição, e mesmo que isso ocorra, se for comprar, não vão encontrar.
O abate indiscriminado de fêmeas, normalmente devido a problemas econômicos em determinados períodos, faz com que haja falta de exemplares para a reposição após essa época. Sempre existirão fazendas em que as condições de solo e pastagens não permitem outro tipo de exploração, que não seja a de cria. Portanto, com um pouco de calma, sempre haverá reposição, até mesmo porque, com o abate indiscriminado, muitos criadores se dedicam mais à cria visando o mercado futuro. De uma ou de outra forma, sempre haverá reposição.
Uma estratégia: realizado o diagnóstico de gestação logo após a estação de monta, aqueles animais que tiveram condições de serem "emprenhados" e não estão, devem ser descartados, vendidos ou abatidos e serem substituídos por fêmeas prenhes ou paridas, evitando, assim o baixo índice de produção, e contribuindo para a seleção por fertilidade. Usar um Veterinário para a escolha dos animais de reposição é de muita importância (através de avaliação sanitária, fenotípica, genotípica e reprodutiva) e, não simplesmente comprar "preço", pois o mesmo anda no caminho inverso da qualidade. Sempre que possível, é aconselhável fazer o descarte, ou seja, no desmame, na seleção para a estação reprodutiva e após o diagnóstico de gestação.
Normalmente esta situação é possível para quem trabalha com criações extensivas, com grande número de exemplares, não se aplicando a plantéis com reduzido volume de animais, sendo o caso de raças européias aqui introduzidas onde cada fêmea deva ser explorada ao máximo, devido ao seu elevado valor.
6.4.6. EFICIÊNCIA REPRODUTIVA
A eficiência reprodutiva é influenciada mais pelo meio ambiente do que pela herança genética, pois é de baixa herdabilidade assim como a maioria das características reprodutivas.
Assim sendo, as fêmeas com baixa eficiência reprodutiva não devem ser mantidas no quadro de cria, pois causam enorme prejuízo não realizando sua mais importante função: de parir um bezerro por ano e desmamá-lo bem pesado.
Alimentação equilibrada é um dos fatores que possuem mais peso para o aumento da eficiência reprodutiva do rebanho de cria.
A infertilidade ou a subfertilidade das matrizes afeta diretamente a eficiência reprodutiva do rebanho.
A eficiência reprodutiva deve ser associada a diversas formas de manejo como uma estação de monta de curta duração, a fim de que o período de maior requerimento nutricional, que é a lactação, coincida com o de maior oferta de alimentos onde as exigências nutritivas são maiores. Dessa maneira, as demais atividades de manejo poderão ser aplicadas nas épocas certas.
A eficiência reprodutiva (ER) é medida pelo número de bezerros desmamados por ano, em relação ao número de fêmeas em idade de reprodução.
E.R. = n° bezerros desmamados / fêmea / ano
Devemos estabelecer índices superiores a 85% de eficiência reprodutiva embora a média em criações extensivas seja bem menor.
A taxa de não retorno ao cio (prenhez ao primeiro serviço), para ser considerada boa, deve ficar acima de 75% (a média está em torno de 65-70%).
                                       Nº vacas prenhas
Índice 1º serviço= ------------------------------ X 100
                  Nº animais inseminacaodos
O índice de serviço/concepção (inseminacaodas e prenhas) pode ficar abaixo de 1,5/1,7 dose por prenhês (a média está em torno de 1,8-2,2). É calculado dividindo o número de doses utilizadas pelo número de vacas prenhas.
                                                           Unidade de sêmen
"Ampolas" por vaca prenha =--------------------------
                                                           Nº vacas prenhas
O intervalo entre partos abaixo de 13 meses já é considerado muito bom (ideal 12 meses, sendo a média de 14 meses).
O intervalo entre parto/prenhes deve ser entre 75-100 dias (onde a média é 120-150 dias).
Portanto, vacas que concebem (emprenham) no 85º dia pós parto, darão cria a cada 12 meses.
Devemos considerar também o peso destes bezerros quando da desmama (habilidade materna) e a área utilizada para a sua produção. Só assim poderemos avaliar a P.C. (produtividade da cria) em Kg de bezerro desmamado/ hectare/ ano que deve estar por volta de 20 kg de peso vivo/hectare/ano.
P.C. = kg de bezerro desmamado / hectare / ano
6.4.7. DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO
O diagnóstico de gestação pode ser efetuado por Veterinário capacitado a partir de 40 dias (ou menos) após a monta ou Inseminação. Normalmente é realizado somente em torno de 60 dias após a estação reprodutiva.
Durante a estação reprodutiva é aconselhável fazer diagnóstico de gestação, também conhecido como "toque", ou outro diagnóstico (ultra-sonografia), em datas estratégicas, não só para simplesmente constatar a prenhes (podendo diminuir o tamanho do lote),porém o mais importante que isto é tentar diagnosticar o porquê das repetições de cio, o porquê dos anestros prolongados, dos cios irregulares, das falhas nas observações de cio, das falhas nas anotações, etc. Tudo isto é necessário para poder diagnosticar em tempo hábil possíveis falhas como estas e corrigi-las, eitando acontecer os prejuízos, pois estes, sim, devem preocupar o Veterinário pois o seu papel é empenhar-se em situações como essas.
A maneira mais prática de efetuar o diagnóstico de gestação é pelo "toque retal" efetuado por um Médico Veterinário, o qual insere seu braço pelo reto do animal e, manipulando o aparelho genital, é capaz de detectar possíveis modificações na sua estrutura, que podem ser gestação ou não, anormalidades ou distúrbios, ou malformações entre outras.
Evite deixar curiosos realizarem o "toque"(diagnóstico de gestação), pois o custo de uma gestação (um bezerro) perdida, causado por pessoas menos avisadas pode sair, em muitas situações, mais dispendioso que uma ou mais diárias técnicas.
É prática comum realizar o corte da vassoura do rabo (vassoura da cola), quando o diagnóstico é positivo, além da anotação, para fácil identificação dos animais positivos.
6.4.8. COMENTÁRIOS
Na teoria e no papel tudo é muito fácil, mas a realização destas condições acontece de forma muito trabalhosa, necessitando de total dedicação das partes envolvidas. Não devemos esquecer que dependemos de fatores climáticos alheios a nossa vontade, portanto devemos manter os conceitos sempre em mente e tentar condicionar a criação o mais próximo do rumo ideal.
É bom lembrar que as condições de manejo acima citadas, não dizem respeito apenas às fazendas que têm ou querem ter Inseminação, mas sim, a todas as fazendas ditas produtivas e organizadas que conseguem obter melhores índices de produção e produtividade.
Entretanto, qualquer destas situações depende das condições e da estrutura da propriedade, e que devem ser adequadas ao perfeito funcionamento. A adoção de qualquer uma destas medidas deverá ser discutida com o Veterinário.
Em anexo, exemplo de quadro de atividades em geral que podem ser desenvolvidas em uma propriedade. Deve-se salientar que tais atividades devem se adaptar a cada tipo de manejo, condição de criação e região.

Índices Zootecnicos


Prof. Dr. Ed Hoffmann Madureira
Departamento de Reprodução Animal. USP
Introdução
Índice é tudo aquilo que indica ou denota alguma qualidade ou característica especial.
Com relação à produção de gado de corte, a reprodução é sem dúvida uma característica muito especial.
Há vários anos, foi feita uma avaliação econômica da importância relativa das diferenças de fertilidade, crescimento e qualidade da carcaça na rentabilidade da produção de gado de corte. As conclusões foram:
1) As diferenças na fertilidade são muito mais importantes do que as diferenças no crescimento ou na qualidade da carcaça.
2) As diferenças no crescimento são mais importantes do que as diferenças na qualidade da carcaça.
Isto significa que a fertilidade e a sobrevivência dos bezerros são mais importantes do que qualquer outra característica na determinação da rentabilidade da produção de bovinos de corte.
É importante que a performance reprodutiva seja periodicamente avaliada e interpretada quando se pretende maximizar a fertilidade sob um determinado conjunto de condições ambientais e de manejo.
Os índices reprodutivos são valiosas ferramentas para esta avaliação e para verificação do impacto que o melhoramento genético tem sobre a eficiência reprodutiva, principalmente no que diz respeito às características ligadas ao crescimento e à qualidade da carcaça.
Quanto mais completas e acuradas forem as informações disponíveis na propriedade, maior o número de índices que poderão ser calculados e interpretados.
O intervalo entre partos (IEP) é um índice importante e para obtê-lo basta computar o númeor de dias compreendidos entre os partos consecutivos de cada matriz do rebanho. Assim, podem-se calcular as médias de IEP por matriz, individualmente, ou para todo o rebanho.
Como nosso objetivo é produzir um bezerro por vaca por ano, o IEP ideal é de 12 meses ou 365 dias. Em muitas propriedades não é possível sequer obter este índice porque a data dos partos não costuma ser anotada. Caso a data da prenhez esteja disponível, é possível incluir no cálculo do IEP as vacas prenhes, utilizando-se a data da previsão de parto. Com isso, amplia-se a base de cálculo, o que melhora a acurácia.
Embora muito útil, este índice é bem amplo e, nos casos em que é superior a 12 meses, torna-se difícil identificar onde está o problema. Por exemplo, as vacas podem estar demorando muito tempo para reassumir a ciclicidade pós-parto ou, apesar de estarem ciclando precocemente, não terem sido detectadas no cio ou mesmo estarem sendo inseminadas ou cobertas e repetindo o estro.
Todas estas causas podem ser responsáveis pelo aumento do IEP, porém as providências a ser tomadas em cada caso são diferentes,. Portanto outros índices são necessários para identificar o problema e tomar a decisão correta.

A Taxa de Prenhez (TP) corresponde ao número de fêmeas prenhes em relação ao número de fêmeas introduzidas no programa reprodutivo. Podemos calcular a TP na estação de monta (EM) ou mesmo em intervalos menores de tempo, como, por exemplo, a TP após um programa de sincronização dos estros ou nos primeiros 30 ou 60 dias da EM.
Para que uma vaca emprenhe, deve ser detectada em estro e ser inseminada ou coberta e conceber após este serviço,. Portanto a TP pode ser desmembrada em outras duas taxas: a Taxa de Serviço (TS) e a Taxa de Cncepção (TC), ao ponto de ser obtida pelo produto de ambas (TP = TS x TC).
Temos verificado, na maioria das fazendas, que a baixa eficiência reprodutiva está intimamente ligada a um índice extremamente importante e que é geralmente relegado a um segundo plano: a Taxa de Serviço (TS).
A TS é o número de fêmeas efetivamente inseminadas ou cobertas em relação ao número de fêmeas disponíveis para serem inseminadas ou cobertas. Ela também pode ser calculada considerando-se toda a EM, ou os primeiros 30 ou 60 dias da EM ou na primeira semana após a aplicação da PGF2a por exemplo. Basta para isso dividir o número de vacas inseminadas pelo número de vacas disponíveis no programa, em cada um destes intervalos de tempo e multiplicar por 100. Há outras maneiras de se calcular a TS que procuraremos abordar assim que o conceito ficar melhor estabecido.
A TS efetivamente depende do número de fêmeas que estão ciclando e da eficiência com que os estros estão sendo detectados. Como já relatamos anteriormente, a TP está em função da TS e portanto os dois fatores que a influenciam também influenciam a TP. Assim, é lícito afirmar que a performance reprodutiva de um rebanho de corte depende em grande parte da ciclicidade das matrizes no início da EM e da eficiência da detecção de estros.
Se separarmos apenas fêmeas ciclando para iniciar a EM, deveríamos inseminar 100% delas nos primeiros 22 dias. Entretanto, nestes casos inseminamos em média 65% das mesmas quando a eficiência de detecção dos estros pode ser considerada boa, o que nos leva a uma falha da ordem de 35%. A mesma TS (65%) costuma ser obtida ao aplicarmos PGF2a em fêmeas bovinas após a detecção do corpo lúteo por palpação retal.

De um modo geral, a porcentagem de matrizes que iniciam a EM em anestro é muito variável e se considerarmos um rebanho com 50% de vacas ciclando e 50% de vacas em anestro (uma condição das mais comuns), teríamos uma TS de apenas 32,5% nos primeiros 22 dias da EM (TS = % de animais ciclando x eficiência da detecção de cios).
A TS geralmente não se mantém constante durante toda a EM. A eficiência da deteção de cios costuma ser mais alta para a 1a IA do que para as inseminações posteriores. Isto ocorre porque entre as vacas que repetem o cio após a 1a IA, apenas cerca de 50% delas são reinseminadas.
Como já relatamos anteriormente, existem outras maneiras de calcularmos a TS, como, por exemplo:
1. TS geral =
22 x nº médio de 
serviços/concepção
dia da EM no qual a
vaca emprenhou + 11

2. TS à 1a IA =
22
dia da EM ao 1o serviço + 11

3. TS à 2a =
22 x (no médio de 
serviços/concepção - 1)
dia da EM no qual 
a vaca emprenhou - 
dia do 1o serviço e demais IA

Onde:
- 22 é a duração do ciclo estral em dias.
- Número médio de serviços/concepção é calculado com base apenas nas vacas prenhes. Não é portanto o número de serviços/concepção do rebanho!
- Dia da EM no qual a vaca emprenhou é o número de dias compreendido entre o início da EM e o dia do serviço no qual a vaca emprenhou.
- 11 é o número correspondente à metade de um ciclo estral.
Estes índices são um pouco mais difíceis para compreender mas muito úteis quando calculados na metade da EM ou no final da mesma, quando os diagnósticos parcial ou total de gestação estão disponíveis, permitindo correções para a fase final da EM ou programação das EM futuras.
Para exemplificar o emprego destes índices suponhamos que nos primeiros 22 dias da EM inseminamos todas as vacas, sem nenhuma concentração de cios em algum dia especificamente. Assim:
TS =
22
= 1 x 100 = 100%
11 + 11


Note-se que são possíveis TS maiores do que 100% em determinadas situações. Se o estro for sincronizado em um grupo de vacas de modo que todas forem inseminadas, em tempo fixo, no 1º dia da EM, teríamos: 
TS =
22
= 1,83 x 100 = 183%
1 + 11

Várias atitudes podem ser tomadas para se melhorar a TS, principalmente as ligadas à diminuição do anestro e ao aumento da eficiência de detecção de cios. A diminuição do anestro pode ser obtida por várias ferramentas de manejo como:
- Possibilitar às matrizes uma condição corporal adequada no pré-parto (BCS 7 ou 8).
- Praticar algum tipo de restrição da amamentação, como permiti-la por 1 ou 2 período por dia ou mesmo o desmame precoce.
- Manter as primíparas separadas das multíparas.
- Introduzir rufiões 3 a 4 semanas antes do início da EM.
- A suplementação alimentar pós-parto não costuma dar bons resultados do ponto de vista econômico. Entretanto a suplementação com gordura, por exemplo, caroço de algodão, precisa ser melhor avaliada no Brasil.
- A escolha de raças sexualmente mais precoces e seleção por precocidade dentro da raça são fatores importantes para melhorar a TS de novilhas.
A eficiência de detecção de cios pode ser incrementada de várias maneiras:
- Treinamento de pessoal e realização de no mínimo dois momentos de observação/dia de pelo menos 30 minutos cada um.
- Introdução de rufiões.
- Utilização de PGF2a.
- Sincronização dos estros com emprego de progesterona/progestágenos, que além de induzir ciclicidade em vacas em anestro possibilitam a IA em tempo fixo, eliminando a necessidade de detecção de cios, possibilitando TS de 100%.
- Associação de uma restrição da amamentação por 48 h, juntamente com emprego de progesterona/progestágenos, costuma dar bons resultados.
Como já vimos, a TP depende não só da TS mas também da TC. Feitas as considerações quanto à TS, analisaremos a TC.
A TC é a relação entre o número de fêmeas prenhes e o número de fêmeas inseminadas multiplicado por 100.
Esta taxa expressa a fertilidade de cada serviço, seja da IA ou da monta natural. Em outras palavras, é a probabilidade que uma fêmea possui de tornar-se gestante uma vez inseminada ou coberta.
Comumente utilizamos um índice que é o número de serviços por concepção e que não deixa de ser uma avaliação da TC, pois o número de serviços/concepção = 100/TC.
Assim, quando dizemos que o ideal é que o número de serviços/concepção seja de 1,5, estamos entendendo que a fertilidade de cada serviço é de 66,7% (1,5 = 100/TC, portanto TC = 100/1,5, que é igual a 66,7%).

A TC é influenciada por uma série de fatores que interagem de uma maneira muito complexa. A fertilidade das vacas é o primeiro destes fatores e é influenciada principalmente pela condição nutricional, período pós-parto, estresse e também por problemas individuais e sanitários. O segundo fator diz respeito à fertilidade do macho ou da qualidade do sêmen. O terceiro fator está relacionado à acurácia da detecção dos estros. A acurácia se refere ao fato de a vaca ter sido inseminada estando realmente em estro e não à TS ou eficiência da detecção do estro como já discutido.
O quarto fator que influencia a TC está ligado à eficiência da técnica da IA, como descongelação do sêmen, higiene e deposição do sêmen no local correto.
Assim sendo, as estratégias para se melhorar a TC devem estar direcionadas a cada um destes quatro fatores:


1 - Fertilidade da vaca
- É uma característica de baixa herdabilidade. Portanto responde pouco à seleção e é muito dependente do manejo, daí a importância do manejo nutricional, do período pós-parto e do estresse.
- Eliminar vacas vazias no final da EM é muito importante para controlar os problemas individuais.
- Manejo sanitário é pré-requisito para obtenção de boas TC. As doenças infecciosas podem ser responsáveis pelo aumento da mortalidade embrionária, o que leva a índices inaceitáveis de concepção. A atenção deve estar voltada ao controle da leptospirose, brucelose, tricomonose, campilobacteriose, além das causadas por ureaplasma, micoplasma, IBR, BVD e neospora.
- Aplicação de GnRH no momento da IA ou alguns dias após pode melhorar a fertilidade das vacas em rebanhos específicos.


2 - Fertilidade do touro/qualidade do sêmen
- Realizar exames andrológicos antes de cada EM.
- Solicitar laudos das partidas de sêmen adquiridas.


3 - Acurácia da detecção dos estros
- Sabe-se que uma determinada porcentagem de vacas é inseminada sem estar no estro. A acurácia é um pouco mais difícil de ser avaliada no campo. Uma maneira prática é verificar qual a porcentagem de intervalos entre estros possui menos do que 18 dias. Se há mais do que 10% de intervalos entre estros menores do que 18 dias, é provável que haja problemas com acurácia da detecção de estros (não se deve esquecer que problemas individuais como cistos ovarianos podem diminuir os intervalos entre-estros).
- Embora não ligado diretamente à acurácia, é oportuno discutir, dentro deste item, o momento da IA. As IA devem ser realizadas entre 6 h e 20 h após o início do estro, ou seja após a 1º aceitação de monta. Portanto, o sistema tradicional de observação do estro pela manhã e à tarde com IA cerca de 12 h após é bem aceitável. O sistema de observação dos estros pela manhã e à tarde com momento único de IA pela manhã, por exemplo, também possibilita que a maioria das IA sejam realizadas dentro da "janela" ideal.

4 - Eficiência da técnica da IA
- Para se melhorar a eficiência da técnica da IA é necessário o treinamento e a reciclagem dos inseminadores, principalmente quanto às técnicas de descongelação do sêmen, higiene e deposição do sêmen no local correto. Não são raras IA realizadas no interior do corno uterino ou na cerviz, em vez de no corpo do útero.
Na Figura 1 pode-se verificar como a TP pode variar em função da TS e da TC, em 3 situações diferentes, nas quais a TS variou de 32,5% a 100%, passando por uma situação intermediária de 60%.

Tabela 1

Porcentagem de vacas vazias submetidas a diferentes taxas de serviço durante a EM

Descrição: http://www.pfizersaudeanimal.com.br/images/bov/informacoes_tec/palestra3_img1.gif

Outros dados podem ser obtidos a partir da análise da figura acima:
As TP ao final de 120 dias da EM são de 70%, 91% e 95%, respectivamente, para as situações A, B e C.
Na situação A foram necessários 74 dias para se atingir 50% de prenhez, enquanto na situação B, 30 dias, e na situação C, com emprego do progestágeno, foram necessários apenas 5 dias. Isto significa que, em média, as vacas da situação C estarão parindo mais cedo do que as da situação B, que por sua vez estarão parindo mais cedo do que as da situação A. Esta diferença irá se refletir positivamente na EM subseqüente, quando as vacas que pariram mais precocemente entrarão na EM com maior número de dias pós-parto e portanto em melhores condições de ciclicidade. Vale ressaltar que, ao desmame, os bezerros das vacas que parem mais cedo são significativamente mais pesados.
Por fim, conclui-se que a TP é influenciada principalmente pela TS e pela TC. Ambas as taxas são influenciadas por uma série de fatores e há várias estratégias de manejo que podem ser adotadas para incrementá-las. É de extrema importância que cada uma destas estratégias seja avaliada do ponto de vista econômico e de exeqüibilidade antes de serem implementadas.



Referências Bibliográficas
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BARUFI,F.B.; MADUREIRA,E.H.; MARQUES,A.; CARVALHO,N.A.T.; CELEGHINI,E.C.C.; BARUSELLI,P.S.; RODRIGUES,P.H.M. Avaliação do uso do Crestar ou CIDR-B + benzoato de estradiol, seguidos ou não pela aplicação de gonadotrofina coriônica equina (eCG) no desempenho reprodutivo de vacas de corte com bezerro ao pá. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.23, n.3, p.332-3, 1999.